Percurso dos Mareantes | ||
Por Paulo Dias (Professor), em 2018/02/27 | 714 leram | 0 comentários | 126 gostam | |
Vem sendo prática, na disciplina de Geografia A, no ensino secundário, a promoção de uma “saída de campo” à cidade de Esposende. | ||
Esta visita, direcionada aos alunos do 11.º ano, integra-se na temática programática – espaço urbano. Objetivando a consolidação dos conteúdos programáticos, o professor Paulo Dias, mentor desta atividade, elaborou, com base no Caminho dos Mareantes, um guião com 10 paragens estratégicas, explorando aspetos geográficos, pondo a tónica na funcionalidade espacial do território. Deste modo, foram promovidas reflexões com os alunos in loco, detalhando-se algumas delas, no escorrer da tinta. Sobre a Foz do Rio Cávado, com a contígua e sobranceira Praça das Lampreias, tendo a norte as segundas habitações da classe alta, que marcam a sazonalidade do espaço, até ao Bairro dos Pescadores, da classe baixa, onde se passa pela devota Capela de S. João, pelo beco do Picau (um antigo pescador) e pela rua “Piloto da Frita” (antigo comandante de uma embarcação), respira-se o perfume da maresia, além de se sentir o pulsar da vida dos “lobos-do-mar”, os saudosos pescadores da terra. Da Praça de El-Rei D. Sebastião (o monarca que em 1572 concedeu o foral de vila a Esposende), tendo à ilharga, o complexo de piscinas e o ex-libris da terra, o Museu Marítimo (antigo Salva-Vidas), passa-se, depois, pela Capela do Senhor dos Aflitos (uma real aflição relativamente aos naufrágios), com paragem obrigatória no Largo Fonseca de Lima (antiga Praça dos Peixinhos), onde se vislumbram o antigo “Teatro Club” que já foi fábrica de confeção, atualmente Museu Municipal, a escultura da embarcação tradicional, a “catraia”, pisando-se um solo sob o qual se encontra um parque privado de estacionamento de veículos, apelidado pelos nativos esposendenses de “Bunker”. Passa-se, depois, por locais onde existiram, no passado, fábricas no centro da antiga vila – a fábrica dos chocolates, a fábrica dos chapéus - o antigo estaleiro de lanchas e iates do Sr. Isolino, o Largo do Pelourinho - o lugar judicial de antanho - tendo a Sul o Bairro do FFH, conhecido como “Sucupira”, também ligado à vida piscatória e onde, contrariamente ao bairro norte, os pescadores têm como santo devoto, S. Pedro. No “quilómetro zero” de Esposende, onde fica a “Casa Grande” (Câmara Municipal) e a classificada de monumental Capela dos Mareantes, que dá o nome ao percurso urbano trilhado, centra-se o poder político e as duas vias estruturantes que marcam o nascimento da urbe (de Sul para Norte, a Rua Direita, que nos dirige para a Igreja Matriz e, de Oeste para Este, a Rua da Sª da Saúde). Com passagem pela Rua da Sª da Saúde, vislumbra-se a Casa do Arco (atual Biblioteca com o nome do poeta Manuel Boaventura), casas medievais de portas e janelas baixas, além de casas abrasileiradas dos “torna-viagem”, que, sonhando com a “árvore das patacas” no país-irmão, investiram na terra de origem. E para lá do souto da Sª da Saúde, hoje povoado de frondosos plátanos, mais para este, segue-se com os olhos, a estrada em direção a Barcelos, e chega-se, então, a uma área de maior disponibilidade de espaço, onde o preço do solo é mais baixo e, aí, percebe-se por que se instalou o atual Parque Industrial de Esposende (em Gandra). Na Rua Direita, com paragem junto à “árvore do incenso”, saboreia-se o comércio local e sente-se o pesar por um símbolo da terra, que se encontra em estado devoluto, o Hotel Nélia. É todo um percurso marcado pela saudade, que passa despercebido aos alunos menos atentos. Depois, chega-se ao “coração da cidade”, o Largo Rodrigues Sampaio (nome do antigo 1.º Ministro de Portugal, na Monarquia), a pequena “baixa” do burgo, onde competem com o busto de Rodrigues Sampaio outras obras esculturais, o bombeiro e o homem do mar. Seguindo rumo a Norte, cruza-se a “Ribeira da Obra” (tunelizada sob uma estrada, onde antigamente existira uma ponte), ao entrar na antiga Avenida Brasil, hoje Av. Henrique Barros Lima. Aí, detemos um olhar sobre os múltiplos serviços existentes ao longo dessa via e no seu espaço envolvente, como as escolas, a Central de Camionagem, a GNR, o Centro de Saúde e o Hospital Valentim Ribeiro, este último, uma obra de Ventura Terra. Várias valências de um espaço multifacetado foram assim estudadas em pormenor. No percurso dos mareantes, a dinâmica integra referências à evolução histórica do aglomerado a Vila e a Cidade; as áreas funcionais; monumentos com história; espaços reabilitados e requalificados; funções urbanas, aspetos da sua evolução; rede viária, entre outros aspetos, físicos, sobretudo da geografia da nossa cidade. No terreno, os alunos compreenderam o que se ensina em contexto de sala de aula, questionando e aplicando os conhecimentos adquiridos. O sucesso deste tipo de atividade está na aprendizagem dos alunos, que é salientada quando avaliam e referem que lhes permitiu, de forma orientada, explorar o espaço com vida e história, perceber a sua dinâmica, a sua função e as “diferentes geografias” de uma terra em constante evolução. Contrariando o poeta Raul Brandão, que, um dia, chamou a “feia Esposende” pelas mortes no mar, a cidade apresenta, hoje, uma beleza imperdível, sendo realmente um “privilégio da natureza”! | ||
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