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Jornal da Escola Secundária de Rocha Peixoto
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THE BOSS
Por Albina Maia (Professora), em 2016/02/161201 leram | 1 comentários | 213 gostam
O Professor Jorge Curto leciona Inglês na Escola Secundária Rocha Peixoto e a sua grande paixão é o teatro. Foi o grande impulsionador de “Os Devisa”, grupo de teatro da nossa escola. Criamos uma certa cumplicidade logo que o conhecemos.
1.Como é que é ser professor de teatro e de inglês?
É complicado, porque gosto muito mais de ser professor de teatro e de artes do que ser professor de inglês. Por isso, gostava de ter tempo para me dedicar mais ao teatro e apresentar mais peças, com mais alunos, durante mais tempo e em mais ocasiões.

2.Já se imaginava nesta profissão quando era pequeno?
Não,só descobri o teatro quando já andava na faculdade mas nunca é tarde de mais para se começar a fazer teatro.

3.Como é que surgiu o gosto pelo teatro?
Isso já foi assim uma história mais antiga. A primeira peça de teatro que vi, ainda era pequenino, foi com um autor chamado António Assunção e que infelizmente já morreu. Fiquei muito impressionado com ele, pois ele começa a peça, engana-se e para. Mas depois regressa ao palco e faz uma peça perfeitamente fantástica, só ele, sozinho, sem ajuda de companheiros. E eu pensei assim: é preciso muita coragem para sozinho enfrentar tanta gente. Começou a partir daí a minha admiração pelos atores e pelo teatro.
4.Fez algum workshop ou algum curso de teatro?
Já fiz vários cursos, alguns deles demoraram uma semana outros demoraram mais tempo. Uma vez, na Filantrópica fiz uma espécie de curso que demorou quase um ano, foram vários meses, aliás um ano letivo que depois terminou com a apresentação de Ricardo III, de Shakespeare, em que eu interpretei o Ricardo III. Sempre que posso, quando tenho tempo, gosto muito de aprender coisas novas de teatro.

5.Como é que consegue conciliar as duas atividades profissionais e a sua vida familiar?
É complicado, mais uma vez, é como conciliar o teatro com a família. O teatro para ser bem feito exige uma dedicação quase a tempo inteiro. Felizmente, tenho uma família que me apoia muito e que percebe, gosta e inclusivamente um dos meus filhos, o mais velho, está a trabalhar comigo. O mais pequeno, embora não esteja aqui na Rocha, já quer para o ano começar a fazer teatro comigo e é agradável ouvir isto da boca dos nossos filhos.


6. Se tivesse de escolher uma das atividades qual escolheria?
Se eu pudesse mudava a educação totalmente, porque acho que a educação, hoje em dia, envolve pouca arte, portanto, se tivesse oportunidade de dar teatro ou de trabalhar em teatro era a isso que eu me dedicava.
 
7. Porque é que escolheria teatro e não outra atividade qualquer?
Porque é aquilo que me faz feliz e acho que as pessoas, se estiverem a fazer o que realmente gostam, de facto, não estão a trabalhar, porque é qualquer coisa que sai naturalmente. Alguém que faça aquilo que goste, seja o que for, e se ainda for pago para isso, quase que nem sente que é um trabalho. É como se a sua profissão fosse um hobby ou uma atividade. Haveria pessoas muito mais felizes e muito mais criativas, porque teriam a liberdade de desenvolver as suas próprias ideias.

8.O que o levou a lançar este desafio à escola?
Antes de vir para a Rocha Peixoto, tinha estado três anos numa escola, em Esposende, onde tinha começado um grupo de teatro. Quando eu vim para cá, o Diretor soube que eu tinha estado à frente de um clube de teatro e perguntou-me se, por acaso, estaria interessado em fazer exatamente a mesma coisa. E foi assim que surgiram os Devisa, no primeiro ano em que eu fui colocado aqui na escola, no ano 2000.

9.Há quanto tempo já é professor de teatro aqui nesta escola?
Então se entrei em 2000, vamos fazer as contas (risos). Portanto já faz 16 anos para o ano. Vocês vão fazer parte da 16ªgeração dos Devisa aqui da escola.
10.O que pensa sobre o seu desempenho durante todos estes anos?
 Houve peças muito giras que eu fiz mas, se calhar, aquilo que mais me marcou foi a possibilidade de conhecer mais pessoas e fazermos as coisas que gostamos em conjunto. Para além das peças, ajudar esta malta mais nova a crescer, a estar em frente de um público, a desenrascar-se, a falar melhor, a trabalhar melhor, é um desafio
Em relação ao meu desempenho se calhar falhei, mas todos nós temos o direito de falhar e todos nós temos o direito de meter uma argolada, uma vez por outra. Agora, não temos o direito de nos metermos na mesma argolada duas vezes, portanto estamos sempre a fazer erros diferentes, mas estamos sempre a aprender coisas novas e a não cair nos mesmos erros e é isso que também se aprende em teatro. A vida não se ensaia, a vida vive-se. Mas em teatro tento sempre pôr qualquer coisa de novo em tudo aquilo que eu faço e tento sempre apresentar coisas diferentes, nunca fico a apresentar a mesma coisa. Se apresentar um grande sucesso, considero que isso foi um sucesso naquela altura, agora vamos fazer outra coisa diferente, nem que seja a partir da mesma peça.


11. Sabemos que este não é o seu primeiro grupo de teatro escolar? Qual o marcou mais?
Em termos de tempo foi este, porque é aquele que eu dirijo há mais tempo, no entanto tenho muitas saudades daquele grupinho que nós tínhamos em Esposende. E de vez em quando, sempre que há oportunidade, encontramo-nos, vemos fotografias antigas, falamos sobre as nossas peças. Foi também um grupo muito interessante, que deixou muito boas recordações. Fizemos uma peça muito complicada chamada Felizmente há luar e foi com esta peça que conseguimos representar dez vezes, para dez escolas diferentes. Fizemos quase uma tournée ao apresentar a peça para várias escolas Foi muito giro e muito interessante.
12. Como é que tem tempo para preparar as sessões de teatro?
Olha, muitas vezes não preparo, muitas vezes inventa-se, a experiência vai-nos dando uma ajuda? Passados tantos anos a fazer a mesma coisa, nós já começamos a ter mais ou menos a perceção de onde queremos chegar, mas isso nunca impede que não precisemos de preparar sempre alguma coisa.
Gosto muito dos ensaios, há sempre coisas a fazer. Desde preparar personagens, preparar os exercícios que ajudam depois os jovens atores a interpretar as personagens, pensar na encenação, nos figurinos, nas coreografias, nas luzes, no som, no cenário, nos adereços.
 As pessoas muitas vezes não imaginam o que está por detrás da apresentação de uma peça. Não é só chegar ali e apresentar.

13. Porque é que deu o nome de Devisa ao grupo?
Olha, porque queria que o nome tivesse, primeiro, alguma coisa a ver com a Póvoa de Varzim, que é onde esta escola está, e Devisa significa aquelas siglas que eram escritas naqueles barcos, um bocadinho como as siglas poveiras, que distinguiam os barcos uns dos outros. Quem disse isto foi um senhor chamado Santos Graça, que foi um historiador daqui, destas coisas da Póvoa. Sendo Devisa um nome típico poveiro já é interessante, pois queremos que o nosso símbolo seja diferente dos outros e depois porque Devisa tem a ver com barcos, porque na escola Rocha Peixoto um dos elementos que aparece no logotipo é um barco e porque é aqui, qualquer coisa, exclusiva, da Póvoa de Varzim.
14. Porque é que gosta que o tratem por BOSS?
Olha, não fui eu que sugeri. Ao princípio, quando comecei em teatro, os vossos colegas diziam que eu era muito mau e diziam que eu parecia um Boss, a partir dai o nome colou, ficou BOSS e passou, de ano para ano.

15. Como é que são atribuídas as personagens a cada membro?
Se estivéssemos no teatro profissional, escolhia os atores que estão mais de acordo com as personagens. Aquilo que eu penso é uma coisa um bocadinho diferente, todos nós temos o direito de escolhermos a personagem mais à nossa maneira. Se conseguirmos pôr as características das pessoas ao serviço da personagem tudo bem, mas também se pode enfrentar o desafio contrário, que é muito mais interessante! Imaginar que aquele ator não tem nada a ver com aquela personagem mas que tem de a interpretar. Agora, depende também da experiência que cada jovem tem... Normalmente eu quero que os meus atores se sintam à vontade a interpretar as personagens. Qualquer coisa que nós vemos nos primeiros ensaios, nos exercícios e durante as improvisações permite perceber qual é a personagem que cada ator gosta de interpretar e a partir daí tomo as decisões.

16. Qual é a sensação de ter novos membros no grupo?
É sempre muito bom. Dá a sensação que é sempre água fresca que estamos a beber, que cada pessoa que entra pode trazer mais ideias e vai agitar essa mesma água, vai causar um outro impacto. É sempre com muita expectativa que eu gosto de ver pessoas mais novas a entrar para o teatro, porque nunca sei o que dali vai sair, é sempre uma grande surpresa. Quando vocês entraram eu não sabia rigorosamente que as coisas se iriam passar assim, desta maneira, e tem sido muito interessante.

17. Como é que é levar os novos membros à sua primeira atuação com o grupo?
É preciso muito trabalho e que quem entra aqui no grupo tenha muita responsabilidade, porque o trabalho de todos nós depende do trabalho de cada um de nós. Mas eu gosto sempre de pôr em palco todas as pessoas que têm vontade de fazer teatro e a escola, com esta oferta extra curricular, dá essa oportunidade . Gosto sempre muito de ver a primeira atuação.
18.O que pensa sobre o público dos Devisa?
O público é muito simpático e trata-nos muito bem, mas também gosto que eles sejam críticos e digam o que é que nós fazemos bem e o que fazemos mal, pois nós, atores, trabalhamos sempre para o público. Temos de oferecer o melhor para esse público, por isso, também gostamos da sinceridade deles e, por vezes, já nos disseram que não atuamos assim tão bem, o que nos deixa a pensar que da próxima vez vamos fazer melhor.

Cláudia Campilho e Inês Maia - 7ºC

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Comentários
Por Ângela Teixeira (Leitor do Jornal), em 2016/02/16
Entrevista muito interessante!!

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