O Embargo
Conto de José Saramago
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A máquina comanda o Homem
Por Inês__pita (Aluno, 7ºD), em 2015/03/10481 leram | 0 comentários | 153 gostam
Nesta entrevista, decidimos interrogar um homem que ficou preso no seu carro e pelo seu próprio carro. Além disso, também entrevistaremos a sua mulher e um rapaz que assistiu a parte do sucedido.
                                             
Jornalista- Estamos em direto com este homem que ficou preso no seu próprio automóvel, onde se magoou na cabeça e na mão ao tentar sair pela janela. Pode-me explicar o que aconteceu?
Homem- Muito boa tarde, eu hoje de manhã acordei com uma "sensação aguda de um sonho degolado". Sem qualquer vontade saí de casa para trabalhar, mas precisava de meter gasolina... tarefa difícil devido ao embargo do petróleo.
Jornalista: percebo... esse embargo criou uma correria desenfreada às bombas de gasolina... e depois?
Homem: Talvez devido ao nevoeiro,quando entrei no carro, senti que "transpirava como um corpo vivo". Também foi uma sensação estranha quando o liguei, pois o "motor roncou alto, com um arfar profundo e impaciente".
Jornalista: Estranho...
Homem: Estranho foi ver que, sem acelerar, o conta-quilómetros tinha dado um salto repentino para os noventa,"velocidade de suicídio" para rua tão estreita. Mas consegui controlar. No percurso para a bomba de gasolina, senti o carro como uma "espécie de frémito animal".
Jornalista: Como é que reagiu a essa situação?
Homem: Fiquei um pouco assustado, mas continuei viagem e fui deitar gasolina.
Jornalista: tarefa difícil, não?
Homem: havia uns vinte carros à frente...hora e meia mais tarde estava a atestar o carro. Este estava melhor do que nunca... mais solto... "com uma agilidade de animal". O pior aconteceu depois: quando passei por outra bomba, fui involuntariamente encher mais um litro de gasolina. E a partir daí a marcha atrás funcionava "ora sim ora não".
Jornalista: realmente é muito bizarro...
Homem: comecei a sentir-me muito "inquieto", porque o carro não me obedecia... Então desisti de "ir ao cliente" conforme pensara, e dirigi-me ao escritório.Mas não fui capaz de sair, pois o o encosto do banco segurava-me "docemente" e mantinha-me "preso". Por mais força que fizesse não conseguia levantar-me.
Jornalista: e não pediu ajuda?
Homem: Havia já várias pessoas intrigadas com o meu comportamento.... fiquei tão envergonhado e comecei a achar que estava doente. Então resolvi voltar para casa.
Jornalista: onde estava a sua mulher...
Homem: sim... esperava que ela me ajudasse. No entanto, tive uma ideia: conseguir sair da gabardina...mas foi em vão... o carro prendia-me até "à pele, aos músculos, aos ossos". Então comecei a gritar, a chorar desesperado.
Jornalista: Isso parece um "absurdo", "nunca ninguém ficara preso" dessa maneira "no seu próprio carro, pelo seu próprio carro"!
Homem: Eu parecia um "animal tosquiado" e comecei a "chorar baixinho, num ganido, miseravelmente".
Jornalista: e ninguém vaio em seu socorro.
Homem: Quando estacionei perto de casa, um garoto "curioso" foi chamar a minha mulher.
Jornalista: que está aqui presente. Vamos falar agora com a sua mulher.
Mulher: Olá, desculpem pelo atraso mas estava a cozinhar. Ontem apanhei um susto dos grandes quando vi o meu marido preso no carro, muito assustado e eu também me assustei. Por mais que o puxasse não conseguia tira-lo daí.
Foi então que pensei que ele estava doido e fingia não poder sair. Depois convenci-o de que precisávamos de ajuda. Decide voltar para casa para chamar alguém para tratar da maluqueira do meu marido... Sabia que até estava todo urinado? Uma vergonha...
Felizmente, este bonito rapaz foi avisar-me do sucedido. Muito obrigada, meu filho.
Jornalista: ainda bem que este rapaz a avisou do que estava a acontecer. O que é que reparaste naquele desgraçado homem?
Rapaz: Eu achei muito estranho aquele homem com um ar desesperado pedir-me para chamar a mulher que estava no terceiro andar. Porquê que não saía do carro e ia para casa?
Jornalista: e depois?
Rapaz: depois o homem saiu com o carro sem esperar pela mulher, que estava em casa a telefonar.
Jornalista: Como assim?
Mulher: eu telefonei para a policia, o hospital, mas ninguém acreditava em mim... deveriam achar que tinha enlouquecido... então voltei para o carro...mas já não havia carro nem o meu marido... gritei ali sozinha no meio da chuva...bem mais tarde apareceram algumas pessoas, mas foi difícil explicar tão bizarra história... ninguém acreditava em mim....
jornalista (para o homem)- então o que aconteceu depois?
Homem: deambulei pela cidade... até fui perseguido pela polícia... mas o carro, "deu um ronco, um arranco poderoso" e conseguiu afastar-se".
Jornalista: como se sentia nessa altura?
Homem: sentia fome...urinava-me... sentia-me humilhado demais...
jornalista: e não tentou sair do carro?
Homem: por vezes parava e tentava, depois de falar com ele a bem... pedi que me libertasse, mas nada. Por vezes explodia "em gritos, em uivos, em lágrimas, em desespero cego". E mesmo "gemendo" continuava a conduzir... a deixar-me conduzir...
Jornalista: pois ... afinal era o carro que o comandava...
Homem: andei sem saber por onde... de manhã estava no meio do nada...a minha testa cobriu-se de um "suor frio"...o carro ficou sem gasolina... o "motor morrera".... sem forças abri a porta do carro ... o meu corpo pendeu para a esquerda e caí sobre as pedras.
Jornalista: um relato intrigante, não lhe parece? (para o rapaz)
Rapaz: parece-me assustador... um carro que se apodera do homem...
jornalista: que quer dizer com isso?
Rapaz: talvez o carro quisesse ensinar alguma coisa...o homem anda muito dependente do carro... da máquina... da tecnologia...O que se passou não é uma história fantástica, é a pura realidade: o homem é um prisioneiro do carro, o Homem é prisioneiro da máquina...
Jornalista: quer explicar-nos melhor'
Rapaz: repare: este homem representa todo o ser humano que vive obcecado pelo trabalho, pela máquina, pela evolução...Houve um embargo ao petróleo e em vez de cada pessoa procurar alternativas mais ecológicas, passam horas nas bombas de gasolina para atestarem o carro, porque não conseguem viver sem ele... Não conseguem porque estão acomodadas a esses bens materiais, que até podem facilitar a vida, mas não são essenciais.
Jornalista: então, o seu humano é um escravo da tecnologia?
Rapaz: pois é isso... o Homem vive escravizado por aquilo que ele próprio criou... já não valoriza o mundo...o planeta... as pessoas... a família.
Jornalista (para o homem) - acha que este rapaz tem razão.
Homem: agora acho que sim... realmente nós vivemos rodeados de máquinas... dependentes de máquinas e valorizamo-las tanto que esquecemos tudo o resto...
Jornalista: e o que é tudo o resto?
Homem: uma bela flor... uma boa conversa...um livro...deixamos de viver realmente a vida, porque somos tapados por esta camada tecnológica.
Rapaz: e nós, jovens, deveríamos mudar os nossos hábitos para não acabarmos assim...


Trabalho realizado por: Inês Pita, n.º 6; Lara Inácio, n.º 13; Lara Santos, n.º 14; Mariana Reis, n.º 16

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