DESAFIO 10 | |
Por Biblioteca António Nobre (Administrador do Jornal), em 2014/03/11 | 611 leram | 0 comentários | 215 gostam |
DESAFIO: COMPREENSÃO DE TEXTO | |
Leia atentamente o Texto B, que abaixo se transcreve. Texto B Nada distingue hoje a burguesia do proletariado. Consomem as mesmas revistas do coração, leem a mesma má literatura (que passa por literatura), veem a mesma televisão, comovem-se com as mesmas distrações. Uns são ricos, outros pobres. A elite portuguesa nunca foi estelar, e entre a expulsão dos judeus e a perseguição aos jesuítas, dispersámos a inteligência e adotámos uma apatia interrompida por acasos históricos que geraram alguns estrangeirados ou exilados cultos permanentemente amargos e desesperados com a pátria (Eça, Sena) e alguns heróis isolados ou desconhecidos (Pessoa, O’Neill). Em Memorial do Convento, Saramago dá-nos um retrato da estupidez dos reis mas exalta romanticamente o povo. (…). A cultura de massas ganhou. No mundo pop, multimédia, inculto e narcisista, em que cada estúpido é o busto de si mesmo, a burguesia e o lúmpen distinguem-se na capacidade de fazer dinheiro. Acumular capital. O dinheiro, as discussões em volta do dinheiro acentuadas pela falta de dinheiro fizeram do proletariado (e desse híbrido chamado classe média) uma massa informe de consumidores que votam. E que consomem democracia, os direitos fundamentais, como consomem televisão, pela imagem. (…). O jornalismo, aterrorizado com a ideia de que a cultura é pesada e de que o mundo tem de ser leve, nivelou a inteligência e a memória pelo mais baixo denominador comum,na esteira das televisões generalistas. Nasceu o avatar da cultura de massas que dá pelo nome de light culture em oposição à destrinça entre high e low. O artista trabalha para o «mercado», tal como o jornalista, sujeito ao rating das audiências e dos comentários on line. A brigada iletrada, como lhe chama Martin Amis, venceu.Estão admirados? John Carlin, o sul-africano autor do livro que foi adaptado ao cinema por Clint Eastwood, «Invictus» conta que Nelson Mandela e os homens do ANC, na prisão, discutiam acaloradamente, apaixonadamente, Shakespeare. Foram «Júlio César» ou «Macbeth», «Hamlet» ou «Ricardo III» que os acompanharam. Não é um preciosismo. A literatura, o poder das palavras para descrever e incluir o mundo num sistema coerente de pensamento é, como a filosofia e a história, tão importante como a física ou a álgebra. A grande mostra da Grã-Bretanha nos Jogos Olímpicos é Shakespeare (no British Museum) e não o dono de supermercado ou futebolista. (…). Portugal tem hoje uma pequeníssima elite que consome a cultura quase toda velha e sem sucessores. Não estamos sós. Por esse mundo fora, a arte tornou-se cópia e reprodução (daí a predominância dos grandes copiadores de coisas, os chineses), tornou-se matéria, tornou-se consumo. Como bem disse Vargas Llosa, em vez de discutirmos ideias discutimos comida. A gastronomia é uma nova filosofia. Feran Adriá é o sucessor de Cervantes e de Ortega y Gasset. ~ Clara Ferreira Alves, Expresso, 21.07.2012 Para responder a cada item (1B. a 7B.), selecione a opção correta, de acordo com o sentido do texto. Escreva, na folha de respostas, o número do item e a alínea que identifica a opção escolhida. 1B. O segundo parágrafo (A) aponta Eça, Sena, Pessoa e O’Neill como casos que fogem à apatia cultural portuguesa. (B) refere que a dispersão da inteligência causou uma apatia literária. (C) aponta Eça, Sena, Pessoa e O’Neill como exemplos da apatia cultural e dispersão da inteligência. 2B. No quinto parágrafo, a autora (A) considera que os artistas trabalham melhor que os jornalistas em prol da cultura. (B) julga desnecessária a diferenciação entre culturas «high» e «low». (C) critica a promoção da cultura «light». 3B. A autora apresenta algumas figuras que se opõem à «brigada iletrada», nomeadamente (A) os donos de supermercados e futebolistas. (B) os atletas que participaram nos Jogos Olímpicos, na Grã-Bretanha. (C) as personagens do filme «Invictus». 4B. No texto, a expressão «brigada iletrada» (linha 24) estabelece uma relação com os antecedentes (A) estrangeirados e exilados cultos. (B) artista (s) e jornalista (s). (C) proletariado e artistas. 5B. As orações «Uns são ricos, outros pobres.» (linha 3), mantêm entre si uma relação de (A) adição. (B) explicação. (C) consequência. 6B. A expressão «(…) o avatar da cultura de massas» (linha 20) assume a função sintática de (A) complemento direto. (B) predicativo do sujeito. (C) sujeito. 7B. A repetição da forma verbal «consomem» (linha 16) contribui para a coesão (A) interfrásica. (B) textual. (C) lexical. SOLUÇÕES: 1B. (A) 2B. (C) 3B. (C) 4B. (B) 5B. (A) 6B. (C) 7B. (C) | |
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