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Ministério Público apura denúncias sobre vazamento
Por Igor Silva (Administrador do Jornal), em 2014/12/05349 leram | 0 comentários | 125 gostam
Ministério Público apura denúncias sobre vazamento
O Ministério Público de Santa Catarina começa a investigar na próxima semana duas denúncias sobre vazamento de radiação na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Cordeiros, em Itajaí. As acusações são feitas por funcionários do próprio posto de saúde, com base em testes na sala de raio-X e em um relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que já informava sobre a irregularidade em outubro do ano passado.

As denúncias foram protocoladas terça-feira na 9ª Promotoria de Justiça, que atua na área da moralidade administrativa, e encaminhadas nesta quinta à 13ª Promotoria, que trata da cidadania e engloba também a saúde. A documentação será analisada pelo promotor Marcelo Coutinho, que deve pedir dados para ampliar a apuração e instaurar o inquérito.

Inaugurada em outubro de 2012, há pelo menos um ano e dois meses a UPA apresentaria problemas na blindagem do raio-X. Quem trabalhava no local à época desconfiou que alguma coisa estava errada com o isolamento e proteção do equipamento verificando situações simples, como o peso da porta, que não deveria ser tão leve quanto foi observado se houvesse a obrigatória camada de chumbo.

— A partir daí pedimos pra fazer um exame por fora da parede pra ver ser o raio-X passava, e concluímos que sim, passava — conta Roseli Silveira, uma das técnicas de enfermagem da unidade.

Outra técnica, que prefere não se identificar, relata um clima de apreensão entre os profissionais, que temem algum tipo de contaminação pela possível exposição à radioatividade. Ela afirma que nos últimos meses já ocorreram três abortos espontâneos, oito infecções respiratórias e pelo menos um caso confirmado de leucemia.

— Pode não ter relação (com o raio-X), mas pode ser que tenha e todo mundo está com medo. Isso já acontece há um ano e ninguém se manifestou até agora — lamenta.

Se confirmado o vazamento de radiação, também não se descarta efeitos em medicamentos da farmácia da UPA, que ficava localizada em frente à sala supostamente desprotegida.

Contraponto

O que diz a Secretaria de Saúde de Itajaí

O secretário de Saúde de Itajaí, Márcio Silveira, diz que só soube das denúncias, por meio de funcionários, há alguns dias. Ele garante que, imediatamente, a sala foi fechada e a farmácia deslocada para outro ponto da UPA. Os exames de raio-X foram transferidos para o Pronto Atendimento do bairro São Vicente. Silveira explica que tomou as medidas por precaução, mas afirma que a secretaria só poderá ter uma posição definitiva após um laudo radiométrico. A análise será feita por uma empresa de Porto Alegre (RS) no próximo dia 11, e o resultado será divulgado em até 30 dias.

— O laudo será feito na UPA do Cordeiros e em todos os postos onde existem raio-X. Enquanto essa avaliação não fica pronta, a sala na UPA não será usada. Tínhamos essa situação como certa, regularizada, então agora estamos fazendo o levantamento para apurar se houve alguma irregularidade — pontua o secretário.

Secretaria de Saúde foi notificada e Anvisa alertou sobre "problema gravíssimo"

Um relatório da Anvisa de 23 de outubro de 2013 aponta que a sala de raio-X da UPA foi construída fora dos padrões de segurança regulamentados pelo órgão. Na oportunidade, os especialistas fizeram testes de dispersão dos raios e constataram que o índice de radiação para as pessoas era maior do que o permitido por lei. O documento destaca que o maior problema é justamente a falta de blindagem adequada em portas e paredes e alerta sobre o "problema gravíssimo" que isso poderia acarretar..

Na Secretaria de Saúde de Itajaí, a assessora jurídica, Juliana Luft, afirmou que nenhum relatório sobre a situação foi recebido da agência nacional. No parecer da agência nacional, porém, consta que a coordenação da UPA e a Saúde municipal foram notificadas pelo Conselho Regional de Técnicos em Radiologia (CRTR), e que nenhuma medida foi tomada.

A avaliação da Anvisa também foi encaminhada à Ouvidoria Geral do Sistema Único de Saúde (SUS), onde também não houve desdobramentos até agora. A reportagem entrou em contato com a agência para falar sobre o relatório e a situação da UPA de Cordeiros. A resposta, via e-mail, foi de que as informações deveriam partir das vigilâncias sanitárias municipal ou estadual, que são responsáveis pela fiscalização. O Sol Diário tentou falar com a Secretaria de Saúde de Santa Catarina, mas nenhum responsável foi localizado até a noite de quinta-feira.

Risco está na superexposição

A radiografia é usada para diagnosticar ou tratar pacientes, registrando imagens da estrutura interna do corpo para verificar a presença ou ausência de doença, objetos e danos ou anormalidades estruturais. O problema, portanto, está na superexposição do material.

Os raios-X emitem a chamada radiação ionizante que, dependendo da quantidade e intensidade da dose e do tempo de exposição, pode causar queimaduras na pele, causar mutações genéticas e danos irreversíveis às células. O câncer é um dos problemas mais associados à radiação, pois a radioatividade pode fazer com que as células cresçam desordenadamente, formando tumores.

No caso de Itajaí, pelo menos até a confirmação do suposto vazamento, a Secretaria de Saúde não deve fazer exames nos funcionários e ex-funcionários da UPA, que em razão do período de contato com o raio-X teriam maior possibilidade de contaminação.

Duas versões para o caso

A Secretaria de Saúde de Itajaí tem notas fiscais da empresa que construiu a UPA de Cordeiros que comprovariam, pelo menos na teoria, a execução dos serviços de blindagem e isolamento da sala de raio-X. Conforme o secretário Márcio Silveira, agora será levantado se o trabalho foi feito na prática. Entre as ações, está um pedido de detalhamento do processo licitatório da obra da UPA à Secretaria de Obras, que é a pasta que fiscalizou o processo.

— Se está tudo de acordo com essas notas é uma questão que estamos verificando — declara Silveira.

A técnica de enfermagem da UPA que não quis se identificar dá outra versão para o caso. Segundo ela, a blindagem inicial realmente foi feita, mas pouco antes da inauguração da unidade, teria sido constatado que, em razão do tamanho, o equipamento de raio-X não entraria no prédio. As paredes e portas então teriam sido quebradas para que o aparelho pudesse passar e, na reconstrução, não teria havido preocupação com os riscos da radioatividade.


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