Resenha crítica: Vidas Secas e Capitães da Areia | |
Por Folha Cefet (Aluno, 2017), em 2019/11/27 | 997 leram | ![]() ![]() |
O livro Vidas Secas (Graciliano Ramos, 1938) é tema da redação para o Vestibular da UERJ desse ano. Mas será que é possível ir além e analisá-lo em comparação a outro grande clássico da literatura nacional? - por Júlia Aranha | |
![]() Ambas as histórias estão inseridas no contexto da pobreza, da falta de oportunidades para melhores condições de vida e ocorrem no Nordeste. Entretanto, enquanto “Vidas Secas” se passa no interior, “Capitães da Areia” situa-se no litoral; isto demonstra que, independentemente da região, os fatores sociais (em especial, a acentuada desigualdade da época) eram ainda de grande influência na vida das personagens. Nesse sentido, é importante notar que tais obras foram publicadas durante a época em que Getúlio Vargas acabara de instaurar uma ditadura – o Estado Novo. Através da literatura, os autores encontrariam uma forma de expressar indignação em relação à opressão política. Jorge Amado, por exemplo, foi comunista e chegou a se filiar ao PCB (Partido Comunista Brasileiro). As duas histórias, ainda, fazem parte da segunda fase do Modernismo no Brasil. Em “Vidas Secas”, conta-se a história de Fabiano e sua família. Eles vivem em busca de estabilidade, fugindo, para tanto, da seca. Todavia, quando Fabiano encontra um local para trabalhar, é explorado por seu patrão, que retira de seu salário muitos juros. O homem tem ciência de sua condição injusta, mas não enxerga outra forma de sobreviver e, toda vez que pensa em desistir de tudo, lembra-se de sua esposa e filhos e retoma sua lida. Em certa parte do livro, Fabiano conta que, se fosse forte o suficiente, poderia se tornar cangaceiro. Volta-Seca (um dos meninos do grupo Capitães da Areia) também compartilhava desse mesmo sonho: entrar para o cangaço. Isso explicita o fato de que, devido às precárias condições de vida e à revolta gerada pela opressão, por muitas vezes, a solução era entrar para o banditismo de Lampião. Essa opressão é exemplificada no livro de Graciliano pelo Soldado Amarelo. Em “Capitães da Areia”, conta-se a história de um grupo de jovens moradores de rua da Bahia que sobrevivem de furtos. O líder do bando é Pedro Bala. Nele, está representada a luta de classes que Jorge Amado defendia, já que o pai dessa personagem havia sido um grevista e o menino seguiria os mesmos passos futuramente. Seu principal companheiro no comando do grupo é Professor. Ele era o único que sabia ler e era, de certa forma, admirado pela sua inteligência. Podemos fazer uma analogia à “Vidas Secas” nesse ponto, pois, apesar de Fabiano afirmar, constantemente, que os livros destruíram a vida de Seu Tomás da bolandeira, ao final da narrativa, ele e sua esposa, Sinhá Vitória, contam o desejo de que seus filhos frequentassem a escola e melhorassem de destino, ou seja, apesar do pouco acesso ao conhecimento, a perspectiva de que o estudo é uma forma de ascender socialmente era notória. Além disso, devemos lembrar do papel das mulheres que, apesar de não serem o foco das obras, têm influência em seus desfechos. Sinhá Vitória, por exemplo, é alvo de forte estima por Fabiano, que admira sua habilidade nas contas da família e seus pensamentos algumas vezes surpreendentes para ele. Dora, por sua vez, é a única menina do bando, ganha a amizade dos Capitães e inicia, inclusive, um romance com Pedro Bala. Portanto, nessas narrativas, está claro o papel que a sociedade desenvolve, tanto nas personalidades das personagens, quanto no futuro que as espera. Todos vivem em função de garantir a sobrevivência, mas sem deixar de amar e de imaginarem uma vida melhor. | |
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