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QUALQUER TEMPO PASSADO FOI MELHOR?
Por Paula Costa (Professora), em 2017/01/03543 leram | 0 comentários | 186 gostam
2800 a.C. uma inscrição assíria: “nestes últimos tempos, a nossa terra está a degenerar. Há sinais de que o mundo está a chegar ao fim. O suborno e a corrupção são comuns.”
Cerca de 450 a.C. o filósofo Sócrates dizia: “Os filhos agora são tiranos…já não se põem de pé quando entra um ancião no quarto. Contradizem os seus pais, tagarelam diante das visitas, engolem guloseimas à mesa, cruzam as pernas e tiranizam os seus mestres.”
Entre 460 e 470, o bispo Sidónio Apolinário escrevia: “O estado da nossa infeliz região é penoso. Toda a gente declara que as coisas eram melhores durante a guerra do que agora, depois de assinar a paz… Esta é a famosa paz que sonhávamos, quando arrancávamos a erva das gretas para comer…Se assim é, oxalá vivas para te ruborizar por uma paz sem honra nem vantagem… Ó humilhante necessidade de nascer, triste necessidade de viver, dura necessidade de morrer.”
Em 1851, Baudelaire, o “patriarca dos poetas malditos”, profetizou: “A imaginação humana pode conceber sem demasiado esforço repúblicas e outros estados comunitários, dignos de alguma glória se forem dirigidos por homens sagrados, por certos aristocratas. Mas não será através das instituições políticas que se manifestará a ruína universal ou o progresso universal, já que pouco importa o nome. Sucederá pelo envelhecimento dos corações…Será necessário dizer-vos que ficará muito pouco da política, a qual se debaterá pessoalmente entre os impulsos da animalidade geral, e que para criar um fantasma de ordem será necessário recorrer a meios que fariam estremecer a nossa humanidade actual, apesar de estar tão endurecida? Então o filho fugirá da família, não aos dezoito anos, mas sim aos doze…”
Andrés Trapiello, na sua página de opinião no “Magazine de La Vanguardia”, em 23 de março de 2008, lembrava que o futuro raramente acaba por se parecer às predicações propostas pelas gerações anteriores a ele. E acrescentava: “O que nos invejarão daqui a 50 anos? Não é fácil de imaginar vivendo num mundo que frequentemente consideramos pouco invejável. Talvez saber que pudemos viver sem telemóveis nem Internet? É difícil sabê-lo e fácil imaginar que em qualquer caso serão tempos tristes, se nos têm a nós por pessoas felizardas e invejáveis.”
in, “História do mundo sem as partes chatas”

Penso que estas notas nos levam a refletir e a pensar que o mundo, a terra, o país que habitamos tem semelhanças com aquilo que se passou in illo tempore.
Luís de Camões dizia “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades…” Mas nem tudo muda. O dia a dia mostra que muitos meninos e meninas se assemelham aos apontados em 450 a.C., as instituições políticas em alguns casos são como em 2800 a.C. Os ideais políticos já não existem, uma vez que muitos apenas pretendem protagonismo e, em ano de eleições, andam de partido em partido a oferecer-se para fazer parte das listas.
Atualmente, o progresso deu aos homens a possibilidade de comunicar à distância via skipe, usar e abusar da internet e dos telemóveis mas, pensando bem, tudo se repete como antigamente. Os jovens de hoje não conseguem imaginar a vida dos seus antepassados sem as novas tecnologias. Todavia, elas não lhes oferecem educação. Essa é da competência da Família que também hoje se encontra muito ausente.
O desconhecido futuro aguarda-se expectante mas, em minha opinião, ele não será fácil. As guerras continuam. Os interesses económicos sobrepõem-se a tudo. A humanidade e a solidariedade entre povos nem sempre existem. Mas tentemos não desanimar e fazer o bem ao nosso vizinho. Isso será um bom começo para a mudança de mentalidades. O sol tem sempre um raio de luz quente para nos iluminar e nos aquecer.

Marta Oliveira Santos


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