OS GATINHOS DA ESCOLA FLÁVIO GONÇALVES | |
Por Paula Costa (Professora), em 2016/10/11 | 460 leram | 0 comentários | 231 gostam |
Num dia solarengo, a pequenada estava toda alvoraçada à beira das condutas de água, espreitando por todos os lados, gritando que os tinham visto e que um era laranja, outro castanho e outro era preto. | |
Quando a professora atónita com o que se passava, pois não entendia nada, se aproximou dos meninos, deparou-se com um espetáculo hilariante entre os pavilhões D e E. Uns meninos agachados, outros deitados, outros atarefados a chamar pelos gatinhos na tentativa de que estes saíssem do buraco da conduta, onde, com medo, se escondiam do alarido dos meninos. Este espetáculo inaudito mostrava um cenário inocente e puro de amor de uma criança por algo simples que lhe desperta carinho e, persistentes, dali não saiam até conseguirem agarrar e afagar um gatinho. Aquele desejo inerente de dar carinho ao gatinho brilhava no esbugalhar de contentamento daqueles olhares abertos e sorridentes, como se de um tesouro gigante para encontrar se tratasse e, sim, trata-se do maior tesouro do mundo, o desejo da proteção, do afago, o que falta no mundo e que apenas encontramos nas crianças puras, a essência do amor, a simplicidade das coisas simples e pequenas da vida. Contudo, já experientes nestas andanças, os gatinhos não se deixavam apanhar. Vivem num mundo de sobrevivência natural, agreste e dura, que perdura todos os dias, onde a sua ciência de vida se traduz em esconder dos males fora do seu lar, do perigo exterior, da possível dor que possam encontrar lá fora, do medo do desconhecido. Escondem-se das mãos amorosas e ternurentas dos meninos porque têm medo do mundo que não é deles, não sabem que o alarido é por causa da beleza deles, e, por não saberem, por não terem amor no seu habitat fogem de estranhos, sim, porque a mãe deles anda perdida, não pode dar-lhes todo o carinho e comida, aconchego e afeto de que necessitam. Diz-se que a mãe gata anda por aí perdida sem saber dos filhotes. Saciam a sede bebendo a água da conduta. Amiúde, os miúdos atiram migalhas aos gatinhos, que também têm como parceria as gaivotas que poisam no recreio da escola, a convite das boas migalhas que generosamente os meninos lhes atiram para as ver poisar do seu leve voo vindo com cheiro de mar, e como lembram o mar… Numa escola que é toda ela virada para o mar (e que enorme mar!), encontra-se, vincado na essência destas crianças, um mar de um coração gigante de generosidade e de puro e inocente amor! Ana Paula Almeida(professora) | |
Comentários | |