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NÃO TER NADA POR TER TUDO
Por Paula Costa (Professora), em 2016/11/10529 leram | 0 comentários | 175 gostam
Era sexta-feira. Estávamos à mesa, a comer o bacalhau cozido de sempre. Salgado, enjoativo. Na televisão, que estava no canal de notícias, falavam sobre a pobreza do continente africano.
Os meninos, descarnados, apesar de toda a pobreza em que viviam, tinham um sorriso na cara. Brincavam com a terra ou com as pedras que encontravam. Corriam atrás dos carros para pedir doces, os mais novos, e sapatilhas de marca, os mais velhos.
      Eu, ainda à mesa, perdi a vontade de comer. Vieram-me as lágrimas aos olhos . Triste, envergonhada. Estes meninos não tinham nada. Eu tinha tudo, e queixava-me, porque não tinha “nada”.
      A notícia acabou. Todos ficámos calados. Levantei a mesa e vi a minha mãe a deitar as sobras ao lixo. Custou-me muito. Enquanto nós deitamos as sobras fora, em África, não há um prato de arroz para cada pessoa.
      Vou para o meu quarto. Começo a preparar a roupa para o dia seguinte. Sem saber o que escolher. Volto a pensar. Eu com três ou quatro gavetas cheias de roupa, e aqueles meninos sem um, um só, par de sapatos. Não me imaginaria no lugar deles. Sem um teto para dormir. Sem roupa para vestir.
      Uns têm coisas a mais, e outros a menos. Uns vivem infelizes porque não têm o que querem. Outros vivem felizes por terem um copo de água para beber ou alguma coisa para brincar.
      O mundo está cheio de desigualdades. Ricos. Pobres. Felizes. Tristes. A riqueza tudo encobre, a pobreza tudo descobre.


Carolina de Sousa Lima, 9º B


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