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CONCURSO LITERÁRIO EÇA DE QUEIRÓS
Por Paula Costa (Professora), em 2015/01/12411 leram | 0 comentários | 193 gostam
Marta Santos, professora aposentada da nossa Escola e nossa colaboradora assídua, foi a vencedora do Concurso Literário Eça de Queirós, sob o pseudónimo Sardinha.
O Concurso propunha como tema Fala-me da Póvoa, e o júri atribuiu o primeiro prémio ao texto da nossa colega, que recebeu o prémio respetivo no Diana Bar, no passado mês de dezembro Agradecemos à autora a sua generosidade ao facultar-nos o texto para publicação no nosso jornal, e enviamos-lhe os nossos parabéns.

A ARCA DA MEMÓRIA
Sentada no Diana-Bar, folheio distraída um livro e lançando os olhos ao Largo do Passeio Alegre, sinto abrir a arca da memória e revejo o acolhedor café, ponto de encontro de amigos, local de tertúlias, sala de estudo de muitos estudantes e reencontro diário de um grupinho de senhoras que ali passavam as tardes deitando conversa fora enquanto faziam crochet.
Na arca da memória vejo o Diana-Bar e, mal me sento, logo um garoto moreno, com olhos de avelã, descalço e com as calças arregaçadas, me estende a mão com um papel dizendo: “Dona, não quer? É uma lembrança daqui da Poboa. Ainda está molhada!” Aprecio o seu jeito, dou-lhe uma moeda e ele deita a correr para o jardim em frente, onde vejo a fonte cujos repuxos esguicham água e aspergem quem passa e, por entre os canteiros sempre bem ornamentados com flores de um belo colorido, há os espaços, em terra vermelha, para passagem de peões, onde formigam crianças em bicicletas que têm duas rodas pequeninas presas à roda traseira, que foram alugadas por meia ou uma hora, na loja por baixo do Casino. A algazarra da miudagem ouve-se pela enorme alegria dos momentos em liberdade.
Perto da fonte, um homem cuja idade ou as agruras da vida parecem pesar-lhe, está junto de uma máquina fotográfica, montada sobre um tripé, onde uma caixa vermelha desbotada, quadrangular, exibe algumas fotografias: um soldado, ou uma criadinha em traje domingueiro, ou um miúdo a fazer pose em cima de um cavalinho. Também o consigo ver, é um cavalito acastanhado de pau, que acompanha o fotógrafo sobre o qual ele senta a criança e, enfiando depois a cabeça num saco preto que sai da caixa mágica, levanta o braço e exclama ao mesmo tempo que se ouve um ténue estalido: “Olha o passarinho!” A fotografia é o seu ganha-pão. No inverno, o negócio é ao fim-de-semana, mas nos dias de verão ou de tourada não tem mãos a medir, trazendo um dos filhos para o ajudar. Foi num desses dias que o garoto me veio trazer a fotografia ao café.
O tempo voa. Desapareceu o homem do cavalinho de pau e o jardim deu lugar a um espaço amplo onde se realizam a Feira do Livro e vários espetáculos. A nova fonte exibe vaidosamente os seus repuxos que, ajudados pelas nortadas, salpicam quem passa. Os canteiros são os guarda-sóis coloridos das esplanadas voltadas para o mar que não se vê, mas se imagina.
O Diana-Bar do José Régio, onde passei tanto tempo da minha juventude, onde tantos namoraram, onde havia bailes de Passagem de Ano e de Carnaval! O mítico Diana-Bar continua a ser ponto de encontro com a cultura, um local privilegiado da cidade da Póvoa de Varzim, berço de Eça de Queirós, para rever o passado, ouvir o presente e sonhar sempre que sentamos o nosso olhar num barquito e navegamos com o marulho do mar.

Sardinha

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