Uma terra sem males | |
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2023/05/20 | 75 leram | 0 comentários | 54 gostam |
Preservação da Mata passa pelos índios | |
As casas da comunidade também estão mais protegidas espiritualmente com o meliponário ao alcance das famílias. “Para quem se sente triste dentro de casa ou para crianças que choram demais dentro de casa, nós colocamos as velas feitas com a cera das nossas abelhas para espantar os maus espíritos”, diz Márcio. Da luta pela terra ao mel orgânico Antes de ser cacique, Márcio, natural do Jaraguá, se mudou para a TI Tupinikim-Guarani por volta de 2006, quando os parentes do Espírito Santos pediram ajuda aos guerreiros do povo guarani para resistir às invasões da empresa Aracruz Celulose, que avançava os limites do território indígena para plantar eucalipto. “Parentes de várias partes do país se mudaram para a TI Tupinikim-Guarani para unir forças. Cortamos todos os eucaliptos plantados em área indígena e, com muita luta, retomamos nosso território”, recorda o cacique. A autodemarcação de mais de 11 mil hectares conquistada pelos Tupinikim-Guarani foi homologada pela Funai somente em 2010. Apesar da vitória, parte da terra recuperada pelos indígenas já não era mais produtiva. “Os eucaliptos deixaram a terra seca, sem vida e cheia de agrotóxicos. Não dava para plantar nada ali. Foi aí que começamos a criar abelhas indígenas da Mata Atlântica, que tinham desaparecido da região com o desmatamento”, conta o cacique. Ele lembra que nunca tinha visto uma abelha nativa até então e não conhecia a importância cultural dessas abelhas para os povos Guarani. A criação de abelhas nativas pelas aldeias de Aracruz entrou para o Plano de Sustentabilidade Tupiniquim e Guarani (PSTG), apoiado pela Suzano S/A (antiga Aracruz Celulose) como forma de reparação aos danos socioambientais ocasionados aos povos Tupiniquim e Guarani. Atualmente, os meliponários da região são importantes produtores de mel orgânico, comercializado com chefs de cozinha de várias partes do Brasil. Com a retomada do território em Aracruz, a volta das abelhas nativas e com os rios próprios para nadar e pescar no litoral capixaba, o cacique Márcio afirma que reencontrou a felicidade de viver — algo que tinha se perdido na TI Jaraguá, quando o território tinha uma área demarcada equivalente a apenas dois campos de futebol e era a menor Terra Indígena do Brasil (em 2015, foram adicionados 532 mil hectares à TI, mas que ainda aguardam homologação do governo). “A criação de abelhas me trouxe alegria e o litoral tiraram minha angústia. Eu tinha água para me banhar e pescar, e as abelhas para ajudar meu espírito a permanecer no território, porque a gente acredita que, quando uma pessoa fica muito triste, seu espírito já não está mais lá, isso é perigoso”, diz. A alegria na TI Tupinikim-Guarani durou pouco, contudo: em novembro de 2015, o rompimento da barragem de rejeitos da Samarco Mineração, da empresa Vale, contaminou 700 km do Rio Doce, afetando todas as aldeias de Aracruz. Já não era mais possível nadar e pescar nos rios. “Sem a pesca, eu não via mais perspectiva de ter o bem viver lá em Aracruz. Foi aí que eu voltei para o Jaraguá. Voltei com as abelhas”, diz a liderança. “Virou um mercado de pet” O professor Malaspina explica que existem 300 espécies de abelhas indígenas conhecidas no Brasil, distribuídas regionalmente. “Apesar de não ferroarem e parecer de fácil manejo, as abelhas indígenas são muito frágeis. Muitas não trabalham no frio, por exemplo, então o dono do meliponário precisa saber alimentar artificialmente essas colmeias durante o inverno. Senão, milhares de abelhas vão morrer nas mãos dessas pessoas”, alerta Malaspina. Segundo o pesquisador, enxames de espécies nativas estão sendo comercializados pela internet a valores que podem chegar a 2 mil reais. “Colméias de jataí, espécie mais frequente das abelhas indígenas, custam de R$ 200, até R$ 400 reais, mas quanto mais rara a espécie, mais cara a colmeia é vendida”. Além de serem comercializadas ilegalmente, o professor explica que levar espécies de abelhas nativas para regiões que não são as originárias pode disseminar doenças no meio ambiente. “As pessoas descobriram as abelhas sem ferrão nos últimos anos e começaram a retirá-las da natureza para criar em casa, como se fosse um pet, sem saber dos riscos ambientais envolvidos. Outros vendem essas abelhas. Ou seja, o cultivo das abelhas nativas virou um mercado de pet”, diz o professor. Fonte https://brasil.mongabay.com/.../por-que-os-guarani-da.../ | |
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