O ARAUTO DO VALE
Jornal do Médio Vale do Paranapanema
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Roubaram as minhas fezes
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2023/06/0178 leram | 0 comentários | 71 gostam
Esperteza nunca é demais, leiam esta história!
ROUBARAM AS MINHAS FEZES!”
A história é verídica. Pode ser, é, um pouco chocante.
O autocarro vinha da zona centro em direcção ao sul. O destino final era Maputo. Apinhado de gente oriunda das mais variadas origens.
A Estrada Nacional número um, acabadinha de reabilitar, convidava o pé ligeiro do condutor a pisar cada vez mais fundo o acelerador, para o gáudio dos passageiros.
De vidros fechados, ouvindo-se de longe o assobio do ar espesso do Inverno contra o autocarro, não havia quem não se embalasse e adormecesse na cadeira.
O machimbombo já tinha deixado para trás a cidade da Maxixe e atravessava Lindela quando gritos estridentes sacudiram o autocarro, despertando quase todos os passageiros! “Roubaram as minhas fezes! Estou mal eu! Roubaram as minhas fezes!” Os gritos eram de pânico e total desespero.
Se o motorista não fez uma travagem brusca, para saber do que se passava, foi graças à sua longa experiência profissional. Os motoristas dos autocarros de longo curso, aprenderam a respeitar apenas a linha da estrada, deixando os assuntos internos do machimbombo a cargo do cobrador. Foi o que valeu! Caso contrário, aquela gritaria punha em pânico o condutor, toda a sua tripulação e os passageiros, e como consequência, seria um estrondoso acidente.
Mas, felizmente, os gritos serviram, apenas, para aguçar a curiosidade dos restantes passageiros.
“Roubaram as minhas fezes! Eu tinha colocado no plástico, e embrulhei na capulana que amarrei na minha cintura. A capulana que tinha minhas fezes, desapareceu! O que vou entregar ao médico eu?”
Os gritos de choro e desespero vinham duma anciã que estava sentada num dos bancos centrais do autocarro inter-provincial, ao lado de dois matulões desconhecidos.
A seriedade com que a velha lamentava, banhada de lágrimas inconsoláveis, tocou os corações sensíveis que viajavam no autocarro
que, começaram a levantar vozes de apoio a solidariedade para com a senhora da terceira idade.
“Que vergonha é essa de roubar as fezes duma pobre anciã a caminho do hospital?! Aonde é que chegamos afinal? Quem pode fazer uma coisa dessas aqui?”
No meio daquele burburinho todo, um dos dois matulões que havia roubado a capulana, olha para o outro, e ambos decidem largar o objecto roubado. E pouco tempo depois, com o ar mais inocente e solícito deste mundo, um deles diz para a anciã: “Vovó, vovó, não será essa capulana que está aí debaixo da sua cadeira?” A senhora levanta-se e apanha a capulana enrolada no chão, bem no fundo da cadeira. “É esta mesma! Oh, graças a Deus! O que seria de mim na presença do médico, sem estes produtos!?” Os murmúrios e comentários continuaram por mais algum tempinho, até que todos se embrulharam nas delícias da viagem.
Alguns voltaram a adormecer, mas outros permaneceram despertos para não terem a desgraça de perder dinheiro e os seus haveres.
Chegados ao destino, a velha resumiu a história da viagem aos familiares que lhe aguardavam na estação.
Vendo os dois rapazes a levantar as bagagens, exibiu publicamente a sua esperteza: “Oh, deixa-me ver as minhas fezes se ainda estão em boas condições”. E olhando de esguelha para larápios falhados, desenrolou a capulana tirando várias notas de dinheiro!
“Vejam o que me tinham roubado no autocarro. Se eu dissesse que era dinheiro, não haviam de me devolver, malandros”.


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