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Feiticeiro daCalheta
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2023/06/0968 leram | 0 comentários | 64 gostam
Uma homenagem ao maior poeta popular da nossa terra
Filme sobre o Feiticeiro da Calheta homenageia autor do Bailinho da Madeira
O poeta popular madeirense João Gomes de Sousa, conhecido por Feiticeiro da Calheta, era pobre e analfabeto, mas foi o autor do Bailinho da Madeira e uma figura muito popular, aspectos agora retratados num filme sobre a sua vida.
"Este homem merece um filme por várias razões. Antes de mais, por causa do Bailinho da Madeira, que é uma das músicas portuguesas mais conhecidas no mundo", afirmou à agência Lusa o investigador Eugénio Perregil, responsável pela coordenação do livro "Feiticeiro da Calheta – Vida e Obra".
João Gomes de Sousa tocou e cantou os célebres versos no decurso da primeira Festa da Vindima, em 1938, integrado no Rancho Folclórico do Arco da Calheta, que ganhou o primeiro prémio. Porém, em 1949, Max, então o mais famoso dos artistas madeirenses, apropriou-se da letra e gravou a canção em Lisboa sem conhecimento do feiticeiro.
O caso gerou enorme crispação entre os dois e, sobretudo, com a mulher do poeta, Augusta Sousa, com quem este tinha casado em segundas núpcias. A mulher desempenhava a função de "agente" do feiticeiro e nunca perdoou a atitude de Max.
João Gomes de Sousa nasceu na Calheta, zona oeste da Madeira, em 1895 e morreu em 1974. Foi sempre pobre e analfabeto, mas não era ignorante nem desprezado pela sociedade, antes pelo contrário, tornou-se um dos nomes maiores da poesia de cordel e da música popular madeirense e a sua presença nos arraiais juntava multidões.
Magro, alto, de bigode e cara angulosa, o Feiticeiro da Calheta seduzia o povo com as suas artes, que não eram mágicas, pois o termo "feiticeiro", neste caso, está associado apenas à sabedoria, à capacidade de contar histórias e de arquitectar e improvisar versos.
"João Gomes de Sousa foi um homem muito carismático e era capaz de dizer 750 versos de cor, enquanto tocava viola de arame", disse Eugénio Perregil, lembrando que na Madeira só houve dois grandes feiticeiros: o da Calheta e o do Norte (Manuel Gonçalves, 1858-1927).
O poeta frequentava muito a rota Calheta – Funchal, onde vendia poesia e produtos agrícolas e onde se inteirava da actualidade, pedindo aos amigos que lhe lessem os jornais. Depois, relatava os acontecimentos em verso.
Numa primeira fase, os versos eram anotados por Manuel Baeta de Castro (avô do ex-presidente da Câmara da Calheta), mas depois a tarefa passou para a filha, Maria de Jesus Agrela, actualmente com 69 anos e emigrante na Venezuela.
Assim que a menina aprendeu a escrever, o feiticeiro até a acordava durante a noite para vir assentar os poemas, prometendo oferecer-lhe, por isso, um colar de voltas.
"A mão do feiticeiro foi ela", afirmou Eugénio Perregil, contando que, efectivamente, numa só manhã, no Pelourinho do Funchal, João Gomes de Sousa vendeu 1.500 folhetos e com o dinheiro comprou o tal colar de agradecimento à filha, que ainda existe e vai entrar no filme.
A película é da autoria do realizador madeirense Luís Miguel Jardim e foca-se nos anos 40 e 50 do século passado, mas também na primeira Festa da Vindima. Envolve cerca de 400 actores e figurantes e deverá estrear antes do final do ano, percorrendo depois as comunidades, já que a obra do Feiticeiro da Calheta se espalhou pela diáspora, pois era habitual os emigrantes comprarem os seus folhetos quando visitavam a Madeira.
O livro de Eugénio Perregil reúne, por outro lado, 42 desses folhetos, publicados entre 1938 e 1971, num total de seis mil versos, onde são abordados diversos temas da actualidade e do quotidiano, com títulos como "O luxo das raparigas e a loucura dos rapazes que andam para casar", "Versos do comércio da Madeira depois da guerra acabar" e "História maravilhosa dos três astronautas americanos que foram no Apolo-11 e desembarcaram na lua".
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