O ARAUTO DO VALE
Jornal do Médio Vale do Paranapanema
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Estado justiceiro?
Por Eleutério Gouveia Sousa (Leitor do Jornal), em 2023/08/06199 leram | 0 comentários | 66 gostam
Quando a justiça se faz aferro e fogo! Quem tem razão?
Pedro Luiz Lorençon
1 d
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Mais uma vez uma operação policial causa grande discussão acerca das intervenções policiais nas comunidades ( nome mais politicamente correto para favela) pelo Brasil. As ocorrências são em território paulista ou fluminense com maior intensidade, mas isso é um fenômeno nacional. Não aceito discussões rasas sobre um tema tão complexo quanto importante de que " direitos humanos só se preocupam com bandido.". " O que eles ajudaram a família do policial morto!". " Queria que fosse com a família deles.". Primeiro: As comissões mundiais de direitos humanos se preocupam com aqueles que o Estado está atacando seus direitos. Se isso for captado , será combatido e sim, já houve um movimento ( que eu saiba) de instituições de direitos humanos em favor de policiais que tiveram seus direitos atacados por ação estatal. O policial covardemente atacado , assim como outros, já recebeu a proteção estatal tendo em vista a própria ação policial em busca de esclarecer o crime. O que se visa , portanto, é vingança. Quanto a ser com a família de um defensor de direitos humanos, creiam que ele sentirá a mesma raiva e possivelmente sede de vingança , mas terá senso suficiente para entender que terá que obedecer a Lei, por mais justificável que fosse atingir o agressor de seu familiar. Feitas estas iniciais observações, um pouco de história se faz necessária. Sempre, durante todos os movimentos humanos do mundo, desde que se criou o Estado como defensor da elite e da propriedade privada, se tem movimentos repressivos da autoridade e muitas delas , a esmagadora maioria, visava acabar com o motim de maneira violenta, sob o pretexto da garantia da Lei. Mas vamos pular para o ano de 1967 ( 1968, talvez) quando , no Brasil do governo militar , a antiga força pública ( aqui em SP, não sei o nome em cada estado da federação) foi extinta e se criou a Polícia Militar e a Polícia Civil. Muitos restaram como civis, mas muitos foram para a categoria militar. Algumas unidades criaram forças de repressão como atividades de extermínio e assim surgiu a operação bandeirante e depois transformada em ROTA ( Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) , salvo engano , pelo Governador Paulo Egídio Martins ou Paulo Salim Maluf. A ROTA herdou a violência, a estratégia de assalto e os métodos da polícia da repressão, mas agora voltada contra a criminalidade comum, já que a subversão praticamente havia terminado. O BOPE trilhou o mesmo caminho no RJ. O inimigo agora era outro, sem trocadilho com o filme tropa de elite 2; deixou de ser grupos armados políticos e passou a ser grupos armados de crimes comuns. Com o tempo , as organizações criminosas ampliaram o leque de opções criminais, especializando-se em vários delitos , mas com o tráfico ilícito de drogas sendo o carro chefe. Quem vive a margem do Estado ( e por isso chamado marginal) , procura um lugar desprotegido do Estado para crescer. O ambiente mais interessante e fértil eram as favelas. Pessoas pobres, despojadas de seus direitos básicos , necessitadas de um pouco de arroz e feijão em seus barracos imundos em suas casas de tijolos a vista ( não como requinte, mas por falta de recursos para reboca-las) aceitaram isso como uma tábua de salvação. O tráfico cresceu e passou a ameaçar o Estado que começou a ver aqueles permissivos favelados como, no mínimo, colaboradores da marginalidade e um risco a integridade política e a segurança da burguesia ( burguês não é elite, é quem vive no burgo) que os sustenta. Dentro de uma mentalidade de que preto e pobre não presta para nada e são vagabundos , a longa manu do estado montou um aparato de combate militarizado para combater o mal. Só que o mal tem dinheiro e muito mais organização do que o Estado. O mal conhece seu inimigo, o Estado não. A partir de formas de corrupção de agentes estatais, a marginalidade criou estruturas paramilitares que atuam nos quartéis generais , protegendo chefia e produtos ou mercadorias. Da mesma forma como vemos um militar não oficial ser morto em uma incursão pela favela, vemos que os que morrem entre os moradores são os mais simples da organização criminosa. São os que lutam no solo da favela, não no morro, são os que dispõe de armas de baixo calibre, são os informantes que correm para avisar da invasão e são capturados, ou os que correm para dentro de suas casas e são mortos a sangue frio, ou depois de torturas impostas pelos agentes estatais que , por sua vez, dentro daquele ambiente caótico tem que fazer o serviço sujo para o governador comemorar como fez o Vitzel, por exemplo. No helicóptero vai o comando, no carrão bonito vão os comandantes. Quem invade favela é de capitão para baixo e nem todos viram uma celebridade como o capitão Nascimento ( que foi usado e traído, convenhamos). A ROTA é célebre por suas incursões nesses ambientes e essas estratégias de assalto que deixam rastros de sangue e sofrimento em comunidades que o Estado, seja que partido for, se nega a olhar. Por um motivo muito simples: Pensemos em um empréstimo bancário que ficou impagável. Esse problema social é a mesma coisa. A fatura ficou alta e totalmente insolúvel. Teria que ser um esforço muito grande, algo impensável diante da falta de sensibilidade e sobra de preconceito contra o povo do próprio país. O sistema é algo tão inatingível que pouco se pode fazer contra ele. Voltando ao mais recente caso; é nítido que a operação se tornou uma vingança , mas ela aconteceria da mesma forma se o policial não fosse morto , fato esse que só antecipou a chacina. A ROTA é treinada para isso: Incursões de guerrilha, de assalto e fariam a mesma coisa. Ela se vinga contra um inimigo que é a própria comunidade, pois aprendeu que eles os odeia tanto quanto eles os odeiam. Justifica-se isso recobrando o que disse acima: O Estado nunca se preocupou com eles. Quem lhes garante um mínimo de subsistência é o tráfico de drogas que precisa do local e da força de trabalho deles para sobreviver e combater o Estado. O tráfico não invade o seu barraco, não mata seu filho deficiente físico, não derruba seu pai da sua cadeira de rodas arrebentando a bolsinha presa a barriga por onde ele faz coco e xixi depois de uma cirurgia para tirar o intestino canceroso. Quem faz isso é a polícia que aprendeu que lá só tem bandido e que devem morrer para o bem e vitória do governador do estado que fará o seu discurso feliz de sucesso da operação. A ROTA é isso que se viu, sempre foi e sempre será . A morte de um dos seus só antecipou a tragédia que estava a ponto de acontecer, primeiro porque estava em fase final de estudos uma invasão que visava desbaratar uma rede de exportação de drogas pelo porto de Santos , principalmente depois do incidente das malas no aeroporto de Frankfurt , remetido ao de Guarulhos e segundo porque o PCC se organiza em todas as áreas que eram consideradas de segurança nacional na ditadura. A solução é difícil e só um esforço desprovido de interesses pessoais podem solucionar o problema que de resto se mistura aos tantos outros problemas sociais. O dinheiro e o poder que são os grandes males da humanidade, ditam o ritmo da vida e isso é só uma parte dela. A ROTA , assim como o BOPE, continuarão suas incursões violentas, as mães continuarão chorando a morte de seus filhos, os manifestantes continuarão protestando, os governantes continuarão defendendo e quem não é atingindo diretamente, continuará palpitando e sacolejando o ombro, ora culpando os diretos humanos, ora culpando o PT, ora culpando o policial que só aprendeu a odiar e a matar.


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